As Danças Circulares fazem parte de um movimento de dança contemporânea que surgiu com Bernhard Wosien (1908-1986), bailarino polonês/alemão, professor de danças, pintor que, a partir das décadas de 1950 e 1960 pesquisou e divulgou danças circulares de vários povos, buscando a valorização das diversidades das culturas, e contando com o apoio para o desenvolvimento de suas práticas da Comunidade de Findhorn, na Escócia, onde viveu por muitos anos.
Wosien conviveu com grandes artistas de seu tempo, sendo um deles Rudolf Laban (1879-1958), grande estusioso sobre a linguagem do movimento, ambos preocupados com o papel da dança na educação. Eles e outros artistas da dança no século XX, tais como Isadora Duncan (1877-1927) , Klauss Vianna (1928-1992), entre outros, viveram uma época de experimentação e grande liberdade de criação de métodos e maneiras de se trabalhar com o corpo em movimento. Algumas dessas propostas, como a das Danças Circulares, são responsáveis por uma grande democratização e expansão da dança por todo o mundo, agregando em suas práticas pessoas de diversas tradições culturais, de vários povos, de todas as idades, gêneros, etnias e grupos sócio-econômicos. A dança, dessa forma, pode ser vivenciada por todos que quiseram participar dela, transformando e/ou reconhecendo como sujeitos da arte e da cultura as pessoas comuns, não apenas artistas ou bailarinos profissionais.
Na vida cultural brasileira, as danças de roda possuem presença marcante, com tradições ancestrais marcadas pela mistura e hibridismo de influências indígenas, afro-brasileiras e europeias. Há incontáveis expressões consideradas populares e/ou folclóricas brasileiras em que as danças de roda estão presentes, de norte a sul do país, sendo que desde a infância as crianças aprendem sobre cirandas como brincadeira e como prática cultural, dentro e fora da escola. No Brasil, existem artistas e pesquisadores que mesclam o movimento das Danças Circulares com investigações e criações que dialogam com as culturas e danças brasileiras, estudando sua história, fazendo releituras, inventando novos passos e coreografias, divulgando nossas músicas, danças e artes em geral.
Assim, as Danças Circulares (também conhecidas como Danças Circulares Sagradas ou ainda Danças dos Povos) têm se espalhado por parques, praças, escolas, centros culturais, por iniciativa de grupos independentes e também de inúmeras instituições públicas e privadas. Seus objetivos são reunir pessoas para vivenciar em conjunto experiências em que a multiplicidade de músicas e danças de diversas partes do mundo e de vários gêneros musicais apresentam possibilidades afetivas, subjetivas e educativas de construção de uma cultura da paz, na qual os corpos em movimento se tocam e se confraternizam, repensando e reposicionando formas de sociabilidades e de práticas culturais na contemporaneidade.
As Danças Circulares são conduzidas ou focalizadas por uma pessoa chamada de focalizador/a, geralmente alguém que estudou ou adquiriu alguma formação em um grupo de convívio regular ou ainda em cursos livres ou profissionais sobre essa prática, abordada como parte da história da dança e das artes. O papel de focalizador/a é o de ajudar as pessoas a interagir, a conviver em grupo, a vivenciar as danças numa roda ou círculo, explicando sobre os sentidos das músicas e coreografias escolhidas, ensinando alguns passos que serão dançados coletivamente, assim como acerca da história e da filosofia da dança e das Danças Circulares em particular.
Nas Danças Circulares o que importa é que o grupo vivencie as danças, sejam estas meditativas, folclóricas e/ou contemporâneas, respeitando a forma como cada um coloca seu corpo em movimento e em diálogo com a presença das outras pessoas, buscando uma experiência de integração, em que emerge uma prática coletiva na qual as individualidades também têm seu espaço e seu papel. Algumas pessoas encontram nas Danças Circulares mais do que a possibilidade de aprender sobre uma arte, sobre outras culturas ou apenas para movimentar o corpo, pois podem conquistar igualmente uma experiência de autoconhecimento, de libertação, de solidariedade e, para alguns, até mesmo de outras expressões de amizade, de amor, de espiritualidade, todas essas expressões complexas e indizíveis de sociabilidade humana.
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